Um dos fatores determinantes para a consolidação da democracia no Brasil é que haja uma gestão eficiente e eficaz dos graves problemas socioeconômicos e socioambientais, a partir do novo mandato presidencial. Essa consolidação passa necessariamente pela retomada do crescimento econômico do País. O Brasil se encontra há quase quatro décadas, desde 1980, com sua economia semiestagnada. Nas duas primeiras décadas do século 21, o Brasil teve um crescimento acumulado do seu PIB per capita de apenas 26,3%, 13 vezes menor do que o crescimento do PIB per capita da China (334%).
Nesse contexto de crescimento econômico interrompido, houve um avanço da crise social e da crise ambiental que assolam o País: as taxas de desemprego e de subemprego se elevaram; ocorreu o aumento das desigualdades sociais e regionais de desenvolvimento; ampliou-se o atraso científico e tecnológico; avançou o processo de empobrecimento da classe média; prevaleceu o intenso uso predatório dos nossos recursos ambientais etc. Enfim, o Brasil precisa passar por um processo de reconstrução de sua identidade histórica e cultural, pivotado por um processo de retomada do crescimento econômico.
A nossa história mostra que os problemas socioeconômicos e socioambientais podem ser mais bem resolvidos quando o País está crescendo - e crescendo de forma sustentada e acelerada. Quando a economia cresce, dependendo do modelo de desenvolvimento adotado, é relativamente mais fácil utilizar o excedente econômico em expansão para financiar programas e projetos de um processo de planejamento do desenvolvimento sustentável (= crescimento econômico globalmente competitivo + inclusão social + sustentabilidade ambiental), tendo como ponto de partida a construção e implementação de um novo ciclo de expansão.
Em números: com o PIB atual de 10 trilhões de Reais, se a economia voltar a crescer a 8% ao ano como cresceu nos dois ciclos de expansão no pós-Guerra (Plano de Metas de JK e “o milagre econômico” dos anos 1970), o PIB teria um excedente anual de 800 bilhões, dos quais 264 bilhões tenderiam a ser alocados nos orçamentos dos três níveis de governo. Um valor que o Presidente percebeu, ainda antes da posse, que irá faltar para sua gestão enfrentar, de forma não inflacionária, a avalanche das mega despesas que estão no horizonte do processo de reconstrução do Brasil. Neste sentido, é fundamental que se resgatem as experiências bem-sucedidas de planejamento no pós-II Grande Guerra, as quais estão sacramentadas no Artigo 165 da Constituição de 1988. Peter Drucker nos lembra que o planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implementações futuras das decisões presentes.
Um novo ciclo de expansão como base para promover a grande transformação do Brasil no maior produtor mundial de alimentos, visando a alavancar o Terceiro Ciclo de Expansão da economia brasileira no pós-II Grande Guerra, faz todo sentido histórico do ponto de vista econômico. O agronegócio brasileiro dispõe de pelo menos duas das pré-condições para alavancar um novo ciclo de crescimento de longo prazo:
Dará certo integrar um plano de longo prazo visando à retomada do crescimento com as políticas de estabilização dentro do estilo bem-sucedido de Roberto Campos e Gouveia de Bulhões, em 1965? O processo de desenvolvimento é uma sequência de desequilíbrios que trazem incertezas. É uma aposta da geração presente no seu futuro e no futuro das novas gerações. Como nos lembra Alice no País das Maravilhas: “a única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível”.